A Sífilis e sua origem obscura


sífilis é uma patologia infecto-contagiosa transmitida por via sexual e causada por uma bactéria (Treponema pallidum). A principal via de transmissão é através do contato sexual , mas também pode ser transmitida da mãe para o feto durante a gravidez ou no nascimento, resultando em sífilis congênita.

  Embora a história da sífilis tenha sido bastante estudada,sua origem ainda permanece desconhecida. Conforme o tempo,a doença foi associada ás relações sexuais e transformou-se em uma das principais pragas mundiais.Era vista com preconceito e como um mal pecaminoso acumulado em epidemias.  



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A imagem acima mostra a sífilis gomosa com ulceração e necrose do osso frontal. 
Este é um exemplo de sífilis terciária (neurosífilis)
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------------------------------ A concepção social da Sífilis no Brasil

------------------------------ Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle

------------------------------ Pinterest - Native American Encyclopedia



Teorias a respeito da origem da sífilis tem sido propostas. Tais possibilidades destacam três pontos diferentes para a origem geográfica da doença.Tais hipóteses geográficas são referentes a América,a África¹ Meridional e a Ásia.Também existe a possibilidade de ter origem na Europa,embora não tenha sido reconhecida.

A primeira hipótese é mais aceita por historiadores e antropólogos,ou seja,que a sífilis esteve presente entre os nativos da América antes da chegada dos europeus,além dos argumentos² envolvidos: a existência de alterações ósseas de natureza sifilítica em fósseis americanos datados da época pré-colombiana (1492) e também,a constatação do início das epidemias da doença na Europa no século XV onde passou a ser conhecida.

¹ Outros acreditavam que a sífilis seria proveniente de mutações e adaptações sofridas por espécies de treponemas endêmicos do continente africano.

² Esses argumentos estão de acordo com os estudos de Rubem David Azulay (1988).Ele também afirma que alguns autores defendem a origem africana. Porém,segundo ele,a teoria asiática também possui  indícios,considerando o achado de uma descrição característica da doença encontrada no tratado médico chinês Hongty (2.637. a.C.). Com base neste suposto,ele também considera a possibilidade de introdução da doença na Europa através de Átila (450 d.C) e por Tarmelão I (1.405 d.C).
Fotografia de um nativo americano (1880). Cristóvão Colombo teve contato  com os
Maias (em um número bem reduzido) e principalmente os Astecas.

O cenário europeu,retratado pelas epidemias de diversas doenças,entre elas a sífilis,aterrorizou a Europa até o final do século XVIII,dizimando uma grande parte da população européia ao longo de décadas. Em especial,no caso da sífilis,este fato deveu-se principalmente a mobilidade dos europeus ao final do século XV,no desbravamento de diversas regiões supostamente contaminadas pela bactéria,nas quais o objetivo dessas expedições seriam a conquista de novos rumos econômicos para seus países.

O contato entre colonizadores e nativos teria dado início a uma troca não apenas de comunicação de culturas,mas também de doenças,entre as quais a maioria delas teriam sido disseminadas pelos europeus aos índios americanos. Viriam então à América a varíola,a gripe,a tuberculose,a peste negra,o sarampo e outras doenças que fariam parte da herança européia.


Os registros revelam que,após o retorno de embarcações colombianas e espanholas ao seu continente de origem,as principais suspeitas sobre a disseminação da doença na Europa haveria se instalado. A partir deste momento,teriam surgidos os primeiros surtos da doença em solo europeu. A doença seria então associada aos desejos carnais e ao pecado. Inclusive,neste aspecto,a sífilis também produziu reflexões na arte européia dos séculos medievais,revelada em afrescos como um símbolo de amor associado aos males da carne.

O rápido contágio teria passado por cidades portuárias,entre marinheiros e prostitutas,espalhando-se através de viajantes. Assim,muitas cidades da Europa sofreriam deste flagelo através do contato sexual promíscuo de militares revolucionários e prostitutas.


''O aspecto monstruoso delatava atitudes pecaminosas. Os prostíbulos eram fontes potenciais da doença. A doença recebia denominações diferentes em áreas distintas. Os napolitanos chamavam de ''doença francesa'' ,estes passavam a bola para a Espanha como a ''doença espanhola'' ,que,por sua vez,a devolviam como ''doença napolitana''. 
Uma doença oriunda do pecado,estava sempre associada ao vizinho. Os doentes recolhiam-se nas suas casas com vergonha do aspecto repugnante.''
                                                                                                     Stefan Cunha Ujvari . 2008.(P.90).                                                                                                                           
A imagem acima mostra um caso de sífilis congênita (descrita na introdução). A infecção do embrião pode ocorrer em qualquer fase gestacional ou estágio da doença materna. Os principais fatores que determinam a probabilidade de transmissão são o estágio da sífilis na mãe e a duração da exposição do feto no útero.

Era preocupante o crescimento da endemia sifilítica no século XIX. Em contrapartida a medicina se desenvolvia, e a síntese das primeiras drogas tornava-se realidade. O maior impacto talvez tenha sido a
introdução da penicilina que, por sua eficácia, fez com que muitos pensassem que a doença estivesse controlada, resultando na diminuição do interesse por seu estudo e controle.


Mercúrio, arsênico, bismuto e iodetos foram inicialmente usados na tentativa de tratar a sífilis, mas mostraram baixa eficácia, toxidade e dificuldades operacionais. Também mostraram pouca eficácia tratamentos que, inspirados na pouca resistencia do T. Palllidum ao calor, preconizavam o aumento da temperatura corporal por meios físicos como banhos quentes de vapor ou com a inoculação de plasmódios na circulação.


A crescente preocupação com o aumento dos casos mobilizou o trabalho de médicos e cientistas,entre eles, Paul Erlich, que em 1909, após 605 tentativas de modificar o arsênico, sintetizou um composto que foi denominado composto 606 ou salvarsan, o primeiro quimioterápico da história da medicina.


A sífilis congênita, muitas vezes criava deformidades horrendas, incluindo cegueira, surdez e perda terrível de características faciais.
Em 1928, a descoberta do poder bactericida do fungo Penicilium notatus, por Fleming, iria modificar a história da sífilis e de outras doenças infecciosas. A penicilina age interferindo na síntese do peptidoglicano, componente da parede celular do T. pallidum. O resultado é entrada de água no treponema,o que acaba por destruí-lo.

O objetivo do controle da sífilis é a interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção de novos casos. Evitar a transmissão da doença consiste na detecção e no tratamento precoce e adequado do paciente e do parceiro, ou parceiros. Na detecção de casos, a introdução do teste rápido em parceiros de pacientes ou de

gestantes poderá ser muito importante. O tratamento adequado consiste no emprego da penicilina como primeira escolha e nas doses adequadas.Em situações especiais, como aumento localizado do número de casos, o tratamento profilático poderá ser avaliado.

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 Provavelmente numa aventura em um bordel,Nietzsche havia contraído sífilis, doença venérea então incurável e cujo estado final conduz à demência. Submerso na solidão e no sofrimento,isolou-se em sua casa até falecer no dia 25 de agosto de 1900.